segunda-feira, 26 de março de 2012

O sonho realizado

Com uma população de 43 milhões de habitantes, um quarto
de sua população vive na pobreza. A Espanha já alcança níveis de desemprego
acima dos 20% da população economicamente ativa, sendo que entre os
jovens de até 30 anos, o desemprego atinge os 50%.


Eis que, meio tomado de surpresa, o nosso histórico sonho nacional de modernização se acha no essencial consumado. Tendo recuperado o tempo perdido no relógio mundial e se colocando hoje à altura dos tempos, podemos conceder a nosso recém-nascido orgulho nacional a prerrogativa de despejar na pré-história de nossa formação objetos que sem dúvida atestam nossa origem pouco nobre. Pois, se é verdade que existe uma psicologia do novo rico, deve igualmente haver uma para um país que seja novo moderno. Sendo assim, os heróicos índios do nosso romantismo decalcado podem descansar no passado imemorial de que estamos radicalmente separados. Dependendo do gosto, pode-se mesmo escarnecer tamanha imaturidade provinciana, produzindo o efeito do contraste e acentuando os obstáculos superados num tortuoso itinerário de formação, coroada com um final sóbrio e cosmopolita. Evidentemente, figuramos entre os modernos não por termos feito a lição melhor (alguém poderia defendê-lo?), mas porque, na terra dos professores além-mar, fizeram-na melhor do que nós, igualando agora todos numa negatividade destrutiva em que a indigência é devidamente democratizada como conquista antissocial e destino trágico universal. Finalmente já não há razão objetiva para o proverbial complexo de vira-lata brasileiro - ou, enunciando o quadro completo: hoje podemos nos orgulhar do bico, do subemprego e da mais vulgar miséria assistida, que nos põem em pé de igualdade com o resto do mundo. O que vem depois da farsa que sucede à tragédia?